Roberto Campos: o liberal visionário
Introdução
Poucos personagens da política e da economia brasileira
foram tão polêmicos e, ao mesmo tempo, tão visionários quanto Roberto de
Oliveira Campos (1917–2001). Economista, diplomata, ministro do
Planejamento, senador e escritor, Campos deixou como maior legado sua obra Lanterna
na Popa, uma autobiografia que é também um manifesto em defesa de suas
ideias liberais e críticas contundentes ao populismo econômico.
Quem foi Roberto Campos
Nascido em Cuiabá (MT), Roberto Campos começou sua carreira
como diplomata em 1939 e logo envolveu-se nas grandes questões econômicas e
políticas do Brasil do século XX. Foi ministro do Planejamento no governo
Castelo Branco (1964–1967), onde liderou a elaboração do PAEG (Programa
de Ação Econômica do Governo), e mais tarde atuou como senador e deputado
federal.
Conhecido por seu estilo mordaz e sua escrita elegante,
Campos tornou-se referência para defensores do liberalismo econômico no Brasil.
As ideias centrais de Roberto Campos
1. Defesa do liberalismo econômico
Campos acreditava que o excesso de intervenção estatal era
um entrave ao crescimento:
“O Brasil não perde oportunidade de perder
oportunidades.”
Para ele, apenas o mercado livre, a iniciativa privada e o
investimento externo poderiam gerar desenvolvimento sustentável.
2. Crítica ao populismo econômico
Roberto Campos via o populismo como a raiz de muitos males
nacionais: inflação crônica, déficits fiscais e políticas insustentáveis.
“A esquerda não gosta de mim porque sou liberal. A
direita não gosta de mim porque sou lúcido.”
Com ironia, apontava que o populismo sacrificava o futuro em
troca de aplausos imediatos.
3. Planejamento pragmático
Embora defensor do mercado, não descartava o planejamento. O
PAEG, que ajudou a formular, foi prova de que era possível equilibrar
disciplina fiscal com reformas estruturais.
“Sou um liberal com alma de planejador.”
Para Campos, planejamento deveria corrigir distorções e
preparar o terreno para o mercado, sem sufocá-lo.
4. Modernização institucional
Roberto Campos foi um dos artífices da criação do Banco
Central e do Sistema Financeiro Nacional. Para ele, sem instituições
sólidas, não havia economia estável.
“O subdesenvolvimento não se improvisa: é obra de séculos
de irresponsabilidade.”
Essa frase traduz bem sua visão: os problemas do Brasil não
eram apenas econômicos, mas culturais e institucionais.
5. Crítica cultural e ideológica
Campos também denunciava o que chamava de “ideologia da
inveja”, um preconceito contra o lucro e o sucesso empresarial que, segundo
ele, bloqueava o avanço do país.
“No Brasil, quem produz é um explorador, quem não produz
é um coitado, e quem fiscaliza é um herói.”
Com esse tipo de ironia, atacava o ambiente hostil ao
capitalismo e ao empreendedorismo.
O legado
Mesmo após sua morte em 2001, as ideias de Roberto Campos
continuam a ecoar no debate público:
- Disciplina
fiscal e combate à inflação.
- Reformas
estruturais (tributária, previdenciária e administrativa).
- Redução
do papel do Estado como empresário.
- Incentivo
à poupança e ao investimento de longo prazo.
Conclusão
Roberto Campos foi, acima de tudo, um pensador inconformado.
Não se curvava ao consenso fácil nem buscava popularidade, mas defendia com
firmeza sua visão de que o Brasil só avançaria com mais liberdade econômica,
instituições fortes e responsabilidade fiscal.
Sua lanterna na popa iluminava o passado para
criticar os erros repetidos do país — e, ao mesmo tempo, apontava caminhos para
o futuro.
“Não tenho a veleidade de ser luz na frente, mas me
contento em ser lanterna na popa.”
E essa lanterna ainda brilha.
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